
A educação formal e os desafios para a entrada no mercado de trabalho
Entrar no mercado de trabalho nunca foi simples, mesmo para jovens com educação formal adequada e vivendo em uma economia em crescimento. Como consequência, a taxa de desemprego é sistematicamente mais elevada entre os jovens em todas as sociedades do planeta. E, em época de crise, é tudo muito mais complicado. Por exemplo, as taxas de desemprego ultrapassaram 14% no Brasil no final de 2020 segundo a PNAD/IBGE, e ela é pelo menos o dobro disso entre os jovens.
Essa barreira à entrada ocorre, em parte, porque a escola nem sempre prepara o aluno para o mundo do trabalho. Além de conteúdos básicos demandados pelos empregadores, como capacidade de se comunicar e pensar logicamente, existem requisitos comportamentais que raramente são ensinados no ensino básico. Tratam-se das chamadas habilidades socioemocionais (soft skills), que envolvem aspectos como autocontrole, foco, capacidade de colaboração e proatividade. Outras habilidades, conhecidas como competências do século XXI ou competências da próxima geração, como pensamento crítico, capacidade de resolver problemas e visão sistêmica, estão na ordem do dia a partir da proposta da Nova Base Nacional Comum Curricular (BNCC).
O que os jovens sonham fazer é muito diferente do que poderão fazer
Outra dificuldade é que os jovens se encontram em processo de descoberta. O que sonham fazer é muito diferente do que poderão fazer. Costumam experimentar muita frustração quando se defrontam no mundo real com a natureza do trabalho que encontram e com o ambiente do local. Além de posições pouco aspiracionais, como o telemarketing, há um choque geracional. Será que o jovem do século XXI vai se adaptar às estruturas rígidas e hierárquicas típicas do século passado?
Dos 14 milhões de desempregados no Brasil, 4,8 milhões têm menos de 24 anos

Além disso, o grande processo de transformação tecnológica em curso tem colocado em xeque a lógica de formação “para a vida toda”. Tudo isso coloca enormes desafios para o ensino técnico e o superior. Embora não seja ainda permitido no Brasil (como na Inglaterra), faria muito sentido que um curso técnico (ou tecnológico) fosse a primeira fase de um curso superior de duração longa na mesma área. Em outras palavras, ao entrar num curso superior de quatro anos, o profissional poderia se certificar ao fim do primeiro e/ou do segundo ano, tendo a opção ou não de seguir em frente se assim desejar
Essas dificuldades têm também provocado no mundo todo um amplo debate sobre novas metodologias de ensino. Como auxiliar o aluno a aprender ao longo de toda vida, estando mais apto a se adaptar às alterações no mercado de trabalho? Como promover o desenvolvimento das habilidades socioemocionais? Como engajar verdadeiramente o aluno?
Essas são questões centrais para todos aqueles preocupados com o tema da transição escola-trabalho.