
Durante muitos e muitos anos, fomos avaliados por um coeficiente numérico que media o quão inteligente éramos e, baseado nisso, poderíamos mensurar a nossa capacidade de sucesso intelectual e cognitivo. Hoje, com a evolução da neurociência, sabemos que o QI (coeficiente intelectual) é só uma pequena parte do que realmente importa sobre inteligência.
Qualidade cognitiva dissociada da qualidade emocional resulta, na maioria das vezes, em uma mente limitada com dificuldades em fazer escolhas assertivas para sua qualidade de vida e realização.
Hoje, sabemos que a coerência entre as diversas inteligências gera um ser efetivamente capaz de gerenciar as habilidades e competências e colocá-las para trabalhar a seu favor.
Como professora, por muitos anos pude acompanhar diversos alunos, cada um com suas particularidades e sempre foi importante para mim entender como meus alunos aprendiam, como eu poderia ser mais assertiva em engaja-los no processo de aprendizagem, pois me angustiava ver que uns tinham mais facilidade enquanto outros, mais dificuldade.
Então, decidi estudar e pesquisar até que entendesse exatamente como o cérebro da criança funcionava e porque nem todos tinham o mesmo processamento. A coisa que mais me intrigava era por que algumas crianças espertas e inteligentes tinham dificuldades na leitura, por exemplo, e iam bem em matemática ou não iam bem na escola, mas tinham uma grande habilidade artística ou emocional.
Vamos aos fatos:
Dicionário Aurélio
O que é inteligência?
Segundo o dicionário Aurélio:
“inteligência / substantivo feminino”
1. faculdade de conhecer, compreender e aprender.
2. capacidade de compreender e resolver novos problemas e conflitos e de adaptar-se a novas situações.
As buscas acerca da inteligência nos levam à Grécia Antiga onde filósofos como Platão e Aristóteles divagam sobre a habilidade humana de armazenar conhecimento e fazer interpretações.
Os anos se passaram e muitas teorias foram construídas até chegarmos ao psicólogo norte-americano Howard Gardner que, no século XX, explicou os 9 tipos de inteligência, teoria que também já está caindo por terra, visto que os tipos de inteligências apenas descrevem talentos.
Peter Salovery e John Mayer publicaram, em 1990, a teoria inovadora da Inteligência Emocional, depois reestruturada por Goleman em 1995 e que também já vem sendo fortemente questionada, pois trata apenas de uma habilidade.
O que temos de mais atual sobre inteligência é a teoria do psicólogo norte-americano John B. Carroll, pois ele condensou todas as importantes teorias anteriores propondo a teoria da Inteligência em 3 camadas, no livro Human Cognitive Abilities (1993), que vem sendo considerada a teoria definitiva sobre inteligência.
A proposição teórica de Carroll pode ser incluída na categoria de modelos hierárquicos de inteligência, pois descreve três estratos que vão desde as amostras mais específicas de capacidade cognitiva até sua aparência geral, que é especificada no construto “fator-g”.
Essas habilidades teriam um caráter estável, segundo o autor.
Primeira camada
De acordo com Carroll, a camada inferior da estrutura da inteligência é formada por habilidades mentais primárias, que incluem um grande número de habilidades cognitivas: raciocínio quantitativo, ortografia, visualização, habilidade para línguas estrangeiras, discriminação de sons da fala, domínio de ideias, tempo de reação etc.
Os resultados das análises fatoriais conduzidas por Carroll e outros autores posteriores revelam que cada uma dessas habilidades, que possuem um alto grau de especificidade, pesa sobre um dos fatores complexos do segundo estrato, dependendo das características do material estimulante e da capacidade geral da qual dependem.
Segundo nível: fatores complexos
O segundo estrato, intermediário, é composto de habilidades ou capacidades inferidas da inteligência incluindo-se, além da inteligência fluída e cristalizada, os processos de aprendizagem e memória, percepção visual, percepção auditiva, produção fácil de ideias (similar à fluência verbal) e a rapidez (incluindo rapidez de resposta e rapidez de resposta acurada).
Inteligência fluida: capacidade de raciocinar e resolver problemas usando novas informações.
Inteligência cristalizada: refere-se à profundidade e quantidade de conhecimento verbal adquirido e o processamento desses dados.
Memória geral e aprendizagem: a capacidade de aprender em geral com habilidades específicas, como retenção de informações ou recuperação de curto prazo.
Capacidade de pesquisa extensa: inclui a capacidade de gerenciar ideias e associações com fluência, tanto verbalmente quanto em imagens.
Processamento visual: capacidade de perceber, analisar, lembrar e funcionar com estimulação visual.
Processamento auditivo: capacidade de discriminar e processar sons, incluindo aqueles associados à fala e à música.
Velocidade cognitiva ampla: refere-se à velocidade na qual os estímulos são processados durante o teste (por exemplo, números) e concluídos.
Velocidade de processamento: Capacidade de realizar processos cognitivos automáticos, especialmente enquanto mantém a atenção seletiva.
Cada um desses fatores inclui vários fatores de ordem inferior correspondentes ao primeiro estrato. Assim, por exemplo, inteligência cristalizada inclui compreensão de leitura, ortografia e proficiência em língua estrangeira, enquanto a habilidade de pesquisa estendida é derivada de testes de criatividade e domínio de diferentes tipos de materiais.
Terceira camada: inteligência geral ou fator G
A terceira camada da estrutura definida por Carroll é constituída pelo fator de inteligência geral, um constructo conhecido como “fator g” e que é usado
por grande número de psicólogos. Essa aptidão de ordem superior influencia todas as aptidões incluídas no segundo estrato e, portanto, também aquelas
do terceiro indiretamente.
Não obstante, parece que a definição de inteligência não tem tanta importância para o desempenho e o desenvolvimento do cérebro na realização das faculdades intelectuais, sociais e cognitivas. Sabemos hoje que o que realmente impacta em nossos resultados é a capacidade do cérebro em se adaptar e se reestruturar, criando novos caminhos neurais sempre que estimulado, ou seja, o que importa mesmo é a neuroplasticidade.