
As chamadas habilidades socioemocionais têm ganhado relevância crescente no meio educacional. Aspectos como colaboração, autonomia e perseverança, por exemplo, passaram a ser objetivos educacionais importantes a serem buscados pela escola, sendo inclusive objeto da nova Base Nacional Comum Curricular.
No entanto, esses temas não são necessariamente valorizados no universo familiar, uma vez que alguns deles podem confrontar valores caros à família. Muitos pais, por exemplo, podem valorizar mais a obediência do que a independência como aspecto preferencial do comportamento de um jovem. Além disso, esses valores tendem a variar segundo o nível de escolaridade dos pais.
A pesquisa global sobre valores individuais (World Values Survey) aborda a questão e pode nos ajudar a refletir mais sobre este assunto. O levantamento tem cobertura para diversos países, incluindo o Brasil. (Para acessar a pesquisa, veja https://www.worldvaluessurvey.org)
Na sua edição de 2017-2020, o World Values Survey apresenta dez diferentes “qualidades” de uma criança e pede aos entrevistados que selecionem cinco delas. O gráfico 1, abaixo, mostra os percentuais das menções atribuídas a imaginação, perseverança, independência e obediência no Brasil, segundo grupos de escolaridade.
Gráfico 1: Importância atribuída pelos entrevistados à imaginação, perseverança, obediência e independência das crianças, segundo nível de escolaridade. Brasil (2017-2020)

Como podemos ver, o gráfico indica claramente que aspectos como imaginação, perseverança e independência são muito mais valorizados pelas pessoas com curso superior completo, enquanto obediência é um aspecto muito mais valorizado por pessoas de baixa escolaridade. Já aqueles com nível escolar equivalente ao ensino médio se posicionam de modo intermediário para todos os quesitos considerados.
Cabe também observar que, embora em menor grau, mesmo entre as pessoas com maior nível de escolaridade a obediência ainda é a qualidade mais importante apontada. Talvez isso nos permita uma reflexão sobre a importância de revermos nossos valores dentro e fora da escola.
Em suma, esses dados mostram que, como tudo na educação, o tema das habilidades socioemocionais é também mediado pelos valores e pela escolaridade dos pais. E se vamos promover essas habilidades, temos também que levar em conta, em algum grau, a sensibilidade e as preferências das famílias. Não é simples, mas é essencial. Você já refletiu sobre isso?