
Aprendizagem e mundo digital.
No ambiente escolar, alunos e professores experimentam diferentes temporalidades. Assistimos ao tempo acelerado dos alunos, que “nascem digitais”, ligados à tecnologia e expostos a ela em casa, no relacionamento com os amigos e em tantas outras interações diárias. Vivemos também o tempo mais lento da rotina escolar, de trabalhos e provas; o tempo limitado do diretor da escola (que muito provavelmente não nasceu digital); o tempo burocrático da secretaria de educação da rede pública; o tempo atribulado – e frequentemente desconectado – do professor. E isso acontece (e se agrava) mesmo em tempos de pandemia.
Segundo a Pesquisa TIC Educação de 2019 1, 59% dos professores de escolas públicas urbanas declararam sentir falta de um curso específico sobre o uso de tecnologias, e apenas 33% dos docentes haviam realizado um curso de formação continuada sobre o tema. Por outro lado, grande parte dos professores (81%) buscou materiais sobre o uso pedagógico das tecnologias por iniciativa própria. Em outras palavras, estamos falando de profissionais formados em ambientes analógicos, correndo atrás de informação para poder educar adequadamente crianças cada vez mais imersas no novo universo digital.
Diversas organizações têm chamado a atenção para a possibilidade de recursos tecnológicos transformarem a educação em países em desenvolvimento. Projetos internacionais com essa visão chegaram ao Brasil, como o Khan Academy, e há organizações importantes apostando nessa premissa, como a Fundação Lemann, a Fundação Telefônica e a Imaginable Futures. O setor público também, apesar de suas dificuldades, busca desenvolver políticas voltadas para a informatização de escolas, inclusive com investimento substancial.
1 Pesquisa sobre o uso das Tecnologias de Informação e Comunicação nas escolas brasileiras – TIC Educação 2019. <https://cetic.br/media/docs/publicacoes/2/20201123090444/tic_edu_2019_livro_eletronico.pdf>. Visitado em 10/02/2021.

A promessa de que a tecnologia pode mudar a educação para melhor também está expressa na iniciativa de dezenas de empreendedores brasileiros que se aventuram a desenvolver soluções nesse campo. São as chamadas edtechs. Startups como Descomplica, Geekie, Redação Online, Alura, Escola Mais, Tamboro e tantas outras buscam desenvolver soluções diversas nas áreas de ensino adaptativo, ensino à distância, gamificação e preparação para o ENEM, dentre outras.
Mas, apesar da multiplicação de projetos de TI e do impulso decorrente da transição para o modelo digital da tecnologia, a verdade é que ainda temos muita dificuldade com esse tema no ambiente da escola pública. Como enfrentar essa crescente dissonância entre os diferentes tempos de adoção de tecnologias por parte da escola, dos professores e dos alunos?
Um ponto de partida central é a ideia de que o professor é – e sempre será – crítico para o processo de ensino-aprendizagem, mesmo que seu estilo de atuação possa ser repensado. Nesse sentido, quatro dimensões essenciais precisam ser consideradas: a formação continuada dos professores no uso pedagógico das novas tecnologias digitais, a maior aderência das ferramentas a serem oferecidas à experiência concreta de professores, o enfrentamento das limitações de infraestrutura e a adoção de novas metodologias de ensino que fortaleçam o processo de transformação digital.
Não é uma agenda simples. Mas, a cada dia, parece ser mais essencial!