Não basta oferecer apenas conteúdo técnico – habilidades socioemocionais, estágios e infraestrutura adequada são igualmente essenciais.

A reforma do ensino médio trouxe o ensino profissional para o centro do debate. E já não era sem tempo. Afinal, trata-se de uma reivindicação antiga de especialistas e organizações do setor produtivo, que precisam cada vez mais contar com profissionais capacitados para o mundo do trabalho.
Por força dessa reforma, redes públicas de todo o País estão introduzindo o ensino técnico na forma do chamado quinto itinerário do ensino médio. Mas não é fácil. Além das clássicas dificuldades operacionais – como definição de currículos, contratação de professores e laboratórios – existem muitas dúvidas sobre o que realmente funciona.
De um lado, questões aparentemente simples muitas vezes comprometem a participação dos alunos mais carentes – por exemplo, a carga horária elevada, as dificuldades de transporte ou a falta da merenda escolar. Por outro lado, há um número considerável de cursos que não oferecem todos os elementos necessários a uma inserção profissional efetiva.
Além dos conteúdos técnicos, os alunos precisam das chamadas “habilidades socioemocionais” – como capacidade de trabalhar em grupo e se comunicar adequadamente – para conseguir atuar em organizações mais complexas. A experiência real do local de trabalho, na forma de estágios, contribui decisivamente para a mudança de atitude do jovem e de seu entendimento sobre o mundo do trabalho. Ainda, a oferta de cursos também precisa ser compatível com as características do setor produtivo da região em questão.
Para as redes públicas, muitas delas já assoberbadas com o ensino regular, não é simples mobilizar todos esses elementos. Com isso, em muitos locais serão oferecidos apenas cursos de menor efetividade, como auxiliar jurídico ou técnico em administração, independentemente da demanda local. E isso ocorre simplesmente pelas limitações de professores presentes nesses locais ou por falta de laboratórios.
Esse não é um problema apenas do Brasil. Uma matéria recente do New York Times 1 mostra que tal preocupação está presente em muitos países. Embora não haja solução simples, se não nos esforçarmos para conseguir combinar os elementos necessários para uma oferta de qualidade, vamos continuar a frustrar as expectativas de milhões de jovens brasileiros.