A dificuldade em construir argumentos lógicos é, ainda, um dos principais desafios do jovens que saem do ensino médio brasileiro.

A capacidade de construir argumentos lógicos é, por excelência, um dos objetivos centrais da aprendizagem no sentido amplo. Essa é uma habilidade de caráter geral, desenvolvida por diferentes disciplinas ao longo de todo o processo de ensino. E esse tema é sempre mencionado quando falamos com professores, especialmente os do ambiente universitário, conforme o depoimento colhido abaixo.
Hoje, o aluno não consegue esquematizar o problema na cabeça, não consegue buscar alternativas para resolver esse problema.
(professor, humanas)
Segundo os professores, sem um raciocínio lógico bem desenvolvido, torna-se impossível ao jovem fazer inferências ou estabelecer relações entre causa e efeito no âmbito específico de cada disciplina ensinada. E, de fato, essa é uma habilidade essencial na medicina, para permitir ao profissional a proposição de um diagnóstico adequado; no direito, para a construção de uma estratégia de defesa ou acusação com base no exame sistemático de provas; ou, ainda, no desenvolvimento de um projeto de engenharia.
Existe consenso de que o pensamento lógico é desenvolvido inicialmente a partir do aprendizado da linguagem. Mas a matemática e as ciências da natureza estimulam adicionalmente esse desenvolvimento: tais disciplinas dariam ao indivíduo instrumentos cognitivos específicos para interpretar o mundo e organizar a informação que recebem.
No entanto, para além desse objetivo de maior escopo, nossas conversas com jovens evidenciam que o conhecimento da matemática está também profundamente relacionado à vida prática dos jovens. O depoimento a seguir evidencia essa dificuldade:
Acredito que tive dificuldades em matemática, porque errei alguns trocos no caixa, então tive que correr atrás para aprender porcentagem para dar os descontos corretos.
(jovem, trabalha,)
E tais deficiências não acarretam dificuldades apenas no âmbito das relações pragmáticas do mercado de trabalho ou da universidade. Na esfera da vida doméstica, por exemplo, é comum as pessoas se defrontarem com situações difíceis ao cuidar do próprio dinheiro ou ao lidar com crédito no sistema bancário. Isso também deveria ter sido ensinado na escola.

Em suma, seja porque não conseguem pensar logicamente, seja porque não dominam conceitos e operações básicas em sua vida cotidiana, a matemática se torna um grande problema para o jovem. Muitos declaram “odiar” a disciplina. Acreditamos que um aprendizado mais “mão na massa” seja essencial para lidarmos de frente com essa realidade.
Sugestão de Leitura: Torres, H.G. 2015. Afinal, por que o currículo é importante? In: Todos pela Educação. De Olho nas Metas, 2013-2014. São Paulo: Todos pela Educação, pp. 110-119.
Sugestão de vídeo: Haroldo da Gama Torres – Afinal, por que o currículo é importante?