
Desigualdades sociais e educação
Um dos recursos intelectuais mais comuns é extrapolar uma teoria sobre como funciona o pensamento humano a partir de um único caso. Embora saibamos que esse tipo de inferência seja incorreto, não tem jeito: faz parte do nosso modo de pensar. No dia a dia, construímos generalizações sobre o outro a partir de uma única observação, ou mesmo de um único olhar.
Quando pessoas da elite falam dos mais pobres, esse fenômeno fica bastante evidente. Todos os que já se engajaram seriamente no campo da pesquisa social costumam ouvir reflexões sobre famílias de baixa renda carregadas de estereótipos, à direita ou à esquerda, conforme as preferências do freguês. Para uns, os pobres são preguiçosos e bagunçados, raramente vão à luta, preferindo depender da ajuda de terceiros ou de políticas sociais como o Bolsa Família. Assim, seriam os pobres os principais responsáveis pela própria tragédia. Para outros, os pobres são nobres e batalhadores, enfrentando com força e galhardia a batalha diária causada pelas condições perversas em que vivem. Nesta visão, são as grandes vítimas do sistema, persistindo e buscando continuamente a superação.

A verdade, obviamente, é que há pobres e ricos de todos os tipos: dos mais desorganizados e imprudentes, que com suas escolhas contribuem para piorar as condições em que se encontram, aos mais focados, capazes de planejar sua rotina para poupar e investir no futuro da família. E, entre um extremo e outro, há um sem número de combinações que dizem respeito ao momento da vida, às influências recebidas e às oportunidades fortuitas. Em comum, somente a certeza de que não há uma única regra.
Como sabemos, nesse universo a educação pode ter um impacto profundo. A pergunta crítica é: que metodologias podem nos ajudar a engajar e educar os alunos, especialmente aqueles oriundos de famílias menos organizadas? Afinal, na escola, os professores podem e devem ajudar os alunos, mas não têm o poder de mudar as famílias, não é?
Num mundo em que o trabalho e o sucesso individual dependem cada vez mais do conhecimento e da capacidade de inovação, a educação deve ter um papel importante como meio de proporcionar igualdade de condições de aprendizagem para ricos e pobres. Não é uma tarefa simples, mas é uma tarefa necessária. E para possibilitar essas oportunidades, é fundamental a inovação no próprio processo educacional. Vamos repensar o papel da escola e como ela pode se reinventar?