
O jovem no centro das políticas voltadas para o ensino médio.
Imagine-se com 17 ou 18 anos, concluindo o ensino médio em uma escola pública, recebendo uma formação limitada e com poucas oportunidades de ingressar na universidade. Difícil? Pois esta é a realidade de boa parte dos jovens que chegam ao final do ciclo básico no Brasil.
Como o ensino técnico ainda tem baixa cobertura, na prática, o País não tem alternativas a oferecer para grande parte da nossa juventude, que estará no mercado de trabalho pelos próximos 50 anos. E isso tem consequências diversas, tanto para os próprios jovens como para as organizações em que vierem a trabalhar. A pesquisa Projeto de Vida, realizada pela Fundação Lemann, por exemplo, evidenciou de forma bastante eloquente que nossos jovens estão chegando ao mundo do trabalho com muito pouco preparo do ponto de vista de suas habilidades cognitivas e socioemocionais 1.
A recente reforma do ensino médio proposta pelo MEC instituiu, dentre as opções oferecidas aos jovens, a possibilidade de seguir uma trilha de ensino técnico. Onde a lei “pegar”, ao lado das áreas de exatas, humanas e ciências da natureza, os alunos poderão optar por seguir uma trilha de ensino técnico, proporcionando alternativas para os que pretendem ingressar diretamente no mercado de trabalho.
Parece relevante. E é. Mas se não tomarmos cuidado, corremos o risco de entregarmos um ensino técnico de baixa qualidade. Afinal, as redes públicas estaduais – as grandes responsáveis pela oferta de ensino médio no Brasil – já se encontram assoberbadas pela intensa agenda de gestão do médio, incluindo temas complexos como o atraso escolar, o ensino noturno, a esgarçada gestão da carreira de professores e a severa limitação dos recursos disponíveis.
O ensino técnico, por sua vez, guarda suas próprias complexidades. Por exemplo, a maior parte dos estados contrata professores de ensino técnico em regime temporário, seja porque é desejável que esses profissionais sejam ativos no mercado de trabalho extraescola, seja porque a demanda dos cursos é relativamente flutuante, não justificando a realização de concursos. Porém, em geral, os temporários tendem a ser menos engajados e a gerar uma rotatividade significativa, com impacto importante para o processo de ensino e aprendizagem.
Como sociedade, talvez seja o caso de começarmos a pensar como tornar a nova trilha de ensino técnico uma verdadeira avenida de oportunidades para os jovens que não as têm. E não vamos resolver isso com os modelos oriundos das Escolas Técnicas Federais e do Sistema S, que – com todo o seu mérito e poder político – têm um custo por aluno totalmente irrealista para as condições de financiamento efetivamente existentes, além de terem estruturado suas práticas numa lógica de seleção de alunos.

Teremos de fazer muito, com muito pouco. Teremos de atender jovens com formação muito precária. Teremos também de inovar em termos dos conteúdos oferecidos e do modelo mental prevalecente. Ao invés de pensar no que a indústria ou a agricultura precisam hoje, por exemplo, devemos também pensar sinceramente no que esses jovens precisam. Quem são eles? Quais os seus dilemas? O que sonham? Afinal, já passa da hora de colocarmos o jovem no centro das políticas voltadas – justamente – para a juventude.