
Brincar é colocar o corpo a serviço da aquisição de novas habilidades de forma lúdica e divertida. Mas é também uma forma de aquisição de regras e conceitos. As brincadeiras na infância são fundamentais para que o nosso corpo e cérebro se preparem para as funções que exercerão ao longo da vida. Quanto mais lúdica, exploratória e divertida for a brincadeira, mais áreas do cérebro serão estimuladas. Ressaltamos a importância do brincar para o desenvolvimento integral do ser humano nos aspectos físico, social, cultural, afetivo, emocional e cognitivo.
Para tanto, se faz necessário conscientizar os pais, educadores e sociedade em geral sobre a ludicidade que deve ser vivenciada na infância. Neste contexto, o brincar proporciona à criança estabelecer regras constituídas por si e em grupo, contribuindo na integração do indivíduo na sociedade, desenvolvimento da autonomia, senso crítico e criativo, flexibilidade emocional e controle inibitório, além do desenvolvimento sensório motor. É importante perceber e incentivar a capacidade criadora das crianças, pois esta se constitui numa das formas de relacionamento e recriação do mundo, na perspectiva da lógica infantil.
Vygotsky (1998), um dos representantes mais importantes da psicologia histórico-cultural, partiu do princípio que o sujeito se constitui nas relações com os outros, por meio de atividades caracteristicamente humanas, que são mediadas por ferramentas técnicas e semióticas. Nesta perspectiva, a brincadeira infantil assume uma posição privilegiada para a análise do processo de constituição do sujeito, rompendo com a visão tradicional de que ela é uma atividade natural de satisfação de instintos infantis. Ainda, o autor refere-se à brincadeira como uma maneira de expressão e apropriação do mundo das relações, das atividades e dos papéis dos adultos.
A capacidade para imaginar, fazer planos, apropriar-se de novos conhecimentos surge, nas crianças, através do brincar. A criança por intermédio da brincadeira e das atividades lúdicas atua, mesmo que simbolicamente, nas diferentes situações vividas pelo ser humano, reelaborando sentimentos, conhecimentos, significados e atitudes.
De acordo com o Referencial Curricular Nacional da Educação Infantil:
O principal indicador da brincadeira, entre as crianças, é o papel que assumem enquanto brincam. Ao adotar outros papéis na brincadeira, as crianças agem frente à realidade de maneira não-literal, transferindo e substituindo suas ações cotidianas pelas ações e características do papel assumido, utilizando-se de objetos substitutos. (BRASIL, 1998, p. 27, v.01)
Estudos neurofisiológicos evidenciam que a atividade lúdica aumenta progressivamente, num paralelo com o desenvolvimento cerebral. As pesquisas realizadas pelos psicólogos Jaak Panksepp, da Universidade de Washington e, Stebe Siviti, da Gettsburg College, indicam como o córtex cerebral dos animais que brincam, aumenta a proteína c-FOS, agente de estimulação e do crescimento das células neurais. Outro dado importante foi a descoberta que brincar com a terra faz bem. Uma pesquisa desenvolvida pelo Sage College de Nova York, mostrou que se sujar na lama faz bem, pois a bactéria Mycobacterium vaccae, presente em grande quantidade no solo, estimula o crescimento de neurônios, aumenta o nível de serotonina no cérebro e ajuda a diminuir a ansiedade.
Por sua influência para com o desenvolvimento infantil o brincar pode ser utilizado como uma ferramenta para estimular déficits e dificuldades encontradas em alguns aspectos desenvolvimentais. Entretanto, os profissionais que lidam com estas crianças devem estar atentos ao desenvolvimento global infantil e não se aterem a aspectos isolados, uma vez que todos os aspectos estão interligados e exercem influências uns para com os outros.

No que se refere à aprendizagem, utilizar a brincadeira como um recurso é aproveitar a motivação interna que as crianças têm para tal comportamento e tornar a aprendizagem de conteúdos escolares mais atraente através de metodologias ativas que geram mais engajamento. Entretanto, o meio escolar ainda não está conseguindo utilizar o recurso da brincadeira como um facilitador para a aprendizagem. Muitas dificuldades e barreiras ainda são encontradas, tais como a falta de espaço, de recursos e principalmente, de qualificação profissional.
A reflexão que bate à porta nesse momento é: se brincar faz bem, estimula, desenvolve e facilita a aprendizagem, por que é tão polêmico a criança ir para a escola “para brincar”?
As brincadeiras estão ligadas diretamente às metodologias ativas, o elo que as conecta é a ludicidade a capacidade de vivenciar as experiências educacionais na prática de forma contextualizada e dinâmica, trazendo assim não só o conhecimento propriamente dito, mas flexibilidade sócio-emocional, autonomia, autoconfiança, utilização, criação e aplicação de regras. Por meio da neuroplasticidade estimulada pelas atividades lúdicas e divertidas os cérebros de qualquer idade podem adquirir uma melhor performance para aprender com mais facilidade e descontração, a gamificação, o storytelling, o design thinking e a aprendizagem em equipes são excelentes exemplos de metodologias ativas que se utilizam da ludopedagogia e alcançam ótimos resultados.
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[Referências:]
BAQUERO, Ricardo. Vygotsky e a aprendizagem escolar. Trad. Ernani F. da Fonseca Rosa. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998.
BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Referencial curricular nacional para a educação infantil/Ministério da Educação e do Desporto, Secretaria de Educação Fundamental. – Brasília: MEC/SEF, 1998, volume: 1 e 2.
DOHME, Vânia D’Ângelo. Atividades lúdicas na educação: o caminho de tijolos amarelos do aprendizado. Petrópolis, RJ: Vozes, 2003.